Amor Por Todas as Criaturas

                                                                                                                                                    Cristianismo

 

Quando ele (Francisco de Assis) lavou suas mãos, escolheu um lugar onde não pisasse na água das abluções. Quando tinha que andar sobre as pedras, seus passos eram gentis e com respeito pelo amor daqueles seres chamados pedras.

Quando ele recitava a passagem do Salmo: Tu me exaltaste sobre uma rocha, por reverência e devoção ele mudou para “aos pés da rocha Tu me exaltastes”.  Ao irmão que cortava madeira para a lareira dos monges ele recomendava que não cortasse a árvore inteira, mas somente uma parte, de forma que a planta pudesse continuar a viver. E ele deu essa mesma recomendação ao irmão que morava com ele.

Para o irmão que cuidava da horta, disse-lhe que não usasse todo o terreno para o cultivo de hortaliças comestíveis, mas que separasse uma parte para a produção de grama verde e, em seu tempo, flores irmãs. Além disso, recomendou ao irmão jardineiro que fizesse em algum lugar do jardim um lindo canteiro para cultivar todos os tipos de ervas aromáticas e plantas com lindas flores. Para que, a cada estação, convidasse a todos que contemplavam o canteiro para louvar a Deus, porque toda criatura diz e proclama: ‘Deus me fez por ti, ó homem! ‘

Nós que vivemos com ele, pudemos apreciar a forma como ele encontrava motivos de alegria interior em quase todas as criaturas, uma alegria que se manifestava em seu íntimo. Como ele os acariciava e os contemplava com amorosidade, como se seu espírito não estivesse na terra, mas no céu. E é verdade manifestada que, por causa das muitas consolações que recebeu das criaturas de Deus, ele compôs, pouco antes de sua morte, alguns louvores do Senhor por suas criaturas, para tocar os corações daqueles que os ouviam louvar a Deus, para que o Senhor seja louvado por todos em suas criaturas.

 

Anônimo, atribuído a Leo of Assisi, no O Espelho da Perfeição..

Domínio Público

 

Comentários

Francisco de Assis poderia ser considerado um santo atípico do Cristianismo, entre outras coisas por causa de seu óbvio amor pelo mundo natural, que ele via como um caminho para o mundo espiritual e para as alturas do divino. De fato, dentro de uma religião que, desde seu princípio, tentou desenhar uma linha radical de separação entre tudo que era natural, instintivo e até mesmo intuitivo – considerando-o pecaminoso ou, ao menos, uma forma de tentação e perversão para os seres humanos – faz de Francisco um inovador espiritual em sua tradição. Desta forma, a mística de Assis abriu caminho de conexão entre os fiéis cristãos e o seu ambiente natural, proporcionando uma oportunidade para o desenvolvimento de uma profunda espiritualidade através da simples contemplação da natureza.

 

Fontes

Anônima (2006). Amor a las criaturas. Em La leyenda de Perusa (parágrafo 88). Palma de Maiorca: Franciscanos T.O.R.

 

Associado ao texto da Carta da Terra

 

Princípio 2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.

 

Outras passagens que esta história ilustra

 

Preâmbulo: Desafios para o Futuro – A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida.